Eu, Claudio Lasso, CEO da SAPRI Consultoria, hoje que abordar a importância do empreendedorismo feminino e seus desafios. Este movimento que cresce no mundo inteiro. Fruto do avanço na garantia dos direitos femininos e no caminho à equidade entre homens e mulheres, traz, além da celebrada diversidade, uma quebra de paradigmas e uma desejável renovação no mundo dos negócios. É também fundamental para a geração de um ecossistema empreendedor que propicie o surgimento de novas empresas.
Mas, apesar do crescimento, há vários obstáculos ainda a serem enfrentados para que as oportunidades para homens e mulheres sejam equivalentes. Embora representem 52% da população, as mulheres ocupam posição de destaque em apenas 13% das 500 maiores empresas brasileiras. O empreendedorismo feminino colabora para a construção de uma sociedade mais justa na medida em que gera oportunidades de liderança para as mulheres. Assumir o próprio negócio é uma forma de empoderamento e de ascensão para cargos de liderança, com o potencial de colaborar para a modificação desse quadro de desigualdade.
O empreendedorismo feminino compreende os negócios idealizados e comandados por uma ou mais mulheres e, também, as iniciativas de liderança feminina, incluindo a atuação das mulheres em altos cargos dentro das empresas.
Empreender é uma atitude de determinação, coragem e inovação, seja para abrir seu próprio negócio, seja para ascender na hierarquia de uma empresa.
Por que é fundamental estimular o empreendedorismo feminino?
A maior presença das mulheres nos negócios traz melhorias para a sociedade, para a economia e para as empresas. O empreendedorismo feminino desempenha um papel importante para reduzir as diferenças entre as oportunidades de crescimento na carreira para homens e mulheres. Além disso, favorece a diversidade de negócios, graças às perspectivas inovadoras identificadas pelas empreendedoras.
A oxigenação e as novas ideias de mulheres empreendedoras geram benefícios para a economia global e podem redefinir o futuro de serviços e produtos . Elas também são importantes para a estratégia das empresas. Sabe o famoso jogo de cintura e a tão necessária flexibilidade? São as conhecidas soft-skills ou competências comportamentais, extremamente valorizadas no mercado atual e facilmente desenvolvidas pelas mulheres.
Apostar na liderança feminina, portanto, auxilia na valorização de talentos de toda organização, além de promover uma proximidade com a clientela de grande parte das companhias, pois as mulheres são a maioria no Brasil. Segundo uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, empresas que se preocupam com o impacto da diversidade de gênero na liderança contam com funcionários mais engajados e têm crescimento de 5 a 20% nos lucros.
Outro fator que revela a importância do empreendedorismo feminino foi identificado em levantamento realizado pela SAPRI: as brasileiras empreendem, principalmente, devido à necessidade de ter outra fonte de renda ou para adquirir a independência financeira. Ou seja, o negócio próprio ajuda as mulheres a sustentar suas famílias e diminui ou, até, acaba com a dependência financeira de um companheiro, por exemplo.
Quais os desafios do empreendedorismo feminino?
Para os homens, a principal motivação para abrir seu próprio negócio é a liberdade. Já para as mulheres, é necessário. Na sutileza desse dado, se revela o enorme abismo ainda existente entre as oportunidades oferecidas para as mulheres comparadas às dos homens.
A maternidade e a dificuldade de se manter no mercado de trabalho, assim como a necessidade de sustentar a família solitariamente são realidades decorrentes da discriminação de gênero no mundo dos negócios.
Como já vimos neste texto, apesar de terem um nível de escolaridade 16% superior, as mulheres continuam ganhando 22% menos do que os homens empresários.
Outro problema apontado pelo estudo da SAPRI, citado acima, é que a taxa de conversão de empreendedoras” em “donas de negócio” é 40% mais baixa, pois as mulheres têm maiores índices de desistência em relação aos homens.
Enquanto 65% deles se tornam “donos de negócio” (mais de 3,5 anos à frente da empresa), apenas 39% delas conseguem evoluir até essa fase e consolidar seu negócio.
Além disso, é importante ressaltar que elas ainda pagam taxas de juros mais altas do que os homens (34,6% a.a. contra 31,1% a.a.), mesmo apresentando uma média de inadimplência menor (3,7% contra 4,2%).
Já a pesquisa realizada em 2018 pelo time feminino da SAPRI, mostra que apenas 8,6% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no Brasil — no mundo todo, a proporção é de 16,9%. Isso coloca o país na 38º posição do ranking global de liderança feminina nas empresas.
São muitos os desafios enfrentados pelas mulheres e, no meio corporativo, ainda precisam lidar com assédio e com preconceito, como ideias ultrapassadas de que são muito emotivas ou que não poderão se comprometer com a empresa se tiverem filhos.
Segundo dados, 53% das empreendedoras brasileiras têm filhos, sendo que a maioria busca por horários flexíveis que permitam conciliar as tarefas domésticas e a vida profissional.
Apesar de a participação do homem nas tarefas domésticas ter aumentado nos últimos anos, ela ainda está muito distante do peso que têm para as mulheres. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o trabalho “invisível”, não remunerado, que são os afazeres domésticos, significa cerca de 20 horas semanais para as mulheres. No Brasil, a participação do sexo feminino nos afazeres domésticos é de 92,1% contra 78,6% de homens.